terça-feira, 27 de setembro de 2016

Com a casa às costas!


Hoje vou falar-vos da nossa experiência nómada!

Queríamos dar a volta à ilha e ver o máximo possível em 9 dias. A Islândia é um pouco maior que Portugal e tem uma estrada, construída em 1974, que dá a volta completa ao território (Iceland’s Ring Road – cerca de 1500 km).

Precisávamos de uma solução prática e económica. Pensamos em alugar um todo o terreno pois sabíamos que era indispensável para chegar a determinados lugares. Mas isso obrigaria a levar tenda o que por sua vez aumentaria a carga a levar no avião, afinal éramos 4.

Depois de muito pensar e comparar decidimos que a melhor solução para nós seria alugar uma campervan, um género de carrinha adaptada com camas e cozinha à semelhança de uma autocaravana (as autocaravanas são muito caras).

Procurei a melhor relação preço qualidade mas também a rentcar que nos proporcionasse as melhores condições em termos de localização e horário de entrega e recolha de forma a não perturbar muito o nosso itinerário.

Há muitas rentcars na Islândia com muitas propostas diferentes. Aqui falarei apenas da nossa experiência o que não significa que seja a melhor opção. Aconselho-vos sempre a explorar as vossas possibilidades e encontrar o que melhor se adapta ao vosso plano. Por exemplo, as duas colegas que viajaram connosco preferiram alugar um Toyota Rav4. Tinham assim o conforto dum carro novo no qual podiam dormir quentinhas e em silêncio depois de rebater os bancos traseiros. Esta hipótese sai mais económica que alugar uma campervan para dois que ronda os 180€/dia.

Alugámos a nossa camper na Happy Campers (https://www.happycampers.is/). A nossa camper era o modelo Happy 3 que tem espaço para 5 pessoas. Já não conseguimos a Happy 2, para 4 pessoas e mais barata. A Happy 3 vem equipada com 2 camas e respectivos cobertores e almofadas, cozinha (equipada com utensílios para 5), frigorífico, fogão e uma pia para lavar a loiça (ficam aqui algumas fotos de pormenor que tirei do site). Alugámos ainda um GPS Garmin e dois sacos cama (levamos outros dois de casa). No momento de entrega, ouvimos todas as recomendações e comprámos um mapa das estradas que eles lá tinham à venda (10€), mas não creio que seja necessário. Na própria prateleira com informação turística diversa que eles disponibilizam, encontram bons mapas que podem levar de graça.






Uma coisa que achamos piada foi terem um par de prateleiras com variadíssimos produtos de mercearia deixados pelos ‘campistas’ anteriores que poderíamos levar se nos comprometêssemos a deixar também ali os nossos excedentes na altura de entregar a carrinha. Aceitámos, claro. Arrecadei logo tudo quanto era papel higiénico e papel de cozinha… achei que iria precisar. Levei também café moído (sim, eles emprestam um coffee-press se solicitado), pratos de papel, e mais umas poucas coisas que já não me lembro. Ah, também um bastão de caminhada muito sovado que estava ali encostadinho a pedir aventura.

Depois duma breve explicação sobre o que podemos e não podemos fazer com a camper fomos fazer a vistoria completa (interior e exterior) à carrinha. Tínhamos adicionado ao nosso pacote o ‘seguro contra gravilha’ e o ‘seguro contra cinzas e areia’. Importava portanto confirmar em que estado estava a carrinha antes de sairmos com ela para a aventura. Estes seguros são opcionais e tal como os sacos cama e o GPS podem ser alugados no momento de entrega. Fomos aconselhados a adicionar esses dois seguros, para além do seguro normal que já vem com o aluguer da viatura. Há ainda o seguro contra furtos mas foi completamente desaconselhado por não ser necessário :)  Da mesma forma podem alugar outro material que achem essencial à vossa viagem tal como cadeiras e mesas de campismo, BBQ grill, cadeiras para bebé, etc… O GPS e os seguro pagam-se diariamente mas o restante equipamento paga-se apenas uma vez no acto de aluguer. Se quiserem alternar entre dois condutores podem alugar um ‘extra driver’ pagando mais 35€ apenas uma vez. Atenção que os valores que menciono são sempre referentes à época alta. Para outras épocas é melhor consultar o site da rentcar.

A ideia era portanto levar a casa até às atracções principais e servir de apoio sempre que precisássemos. Praticamente todas as atrações têm apoios turísticos: casas de banho, mesas de piquenique, café, lojinhas de souvenirs, etc…

Quanto às dormidas… fomos advertidos de que a lei mudou recentemente e que actualmente já não é permitido campismo selvagem. Não tínhamos ideia de o fazer mas, aquando da delineação do nosso plano, contei com essa possibilidade para uma eventual emergência. No caso de algum dia que nos atrasássemos e não conseguíssemos chegar ao nosso destino a tempo poderíamos dormir pelo caminho na campervan. Mas não. Tivemos mesmo que seguir o plano à risca e fora uma ou outra noite, chegamos sempre atempadamente aos locais destinados para pernoitar.

Sempre que dormimos na camper dormimos muito bem. Nós, casal, ficámos na cama de baixo (os bancos de trás da carrinha deitados) e os miúdos ficaram na cama de cima, uma plataforma extensível que fica por cima dos bancos, ao nível das nossas cabeças. A camper tem cortinas a toda a volta. Tem ainda uma bateria extra para alimentar um sistema de aquecimento (que só usamos uma vez) e duas luzes interiores.

É claro que é um espaço acatitado para gerir a tralha e a vontade de 4 pessoas. Também obriga a montar e desmontar camas todos os dias. Mas dormi sempre bem (o cansaço físico também ajudou) e voltaria a repetir a experiência, sem dúvida!

O próximo post virá na sequência deste. Falarei dos parques de campismo da Islândia. Até lá bons sonhos e bons planos!

sábado, 17 de setembro de 2016

De malas aviadas



A viagem de avião não é o tema que mais me entusiasma e talvez por isso tenha ficado tanto sem escrever no blog. No entanto é um tema muito importante porque é aqui que gastamos mais dinheiro. Requer alguma ponderação porque há muitas variáveis a considerar: a escolha da companhia, do local de partida, com escala ou sem escala, etc., de forma a conseguir a opção mais cómoda e financeiramente mais atractiva. Inicialmente tentei fazer todo o trabalho sozinha mas confesso que acabei por desistir e colocar o assunto nas mãos de uma agência de viagens fidedigna. No meu caso foi a EasyBookings aqui em Faro (http://www.easybookings.com.pt/), que tornou o processo simples, cómodo e descansou-me da ideia de esquecer alguma coisa importante.

Há voos para a Islândia desde Lisboa, Porto, Madeira e Faro mas todos têm pelo menos uma escala numa qualquer cidade europeia. Creio não haver voos directos de Portugal para a Islândia.

Os preços são muito variáveis… vi valores desde os 250 a mais de 1000€, mas creio que o preço médio rondará os 550€/pessoa (ida e volta). Nós partimos de Faro, o que encareceu um pouco os bilhetes (cerca de 600€/pessoa) mas preferimos pagar essa diferença e ficar mais próximos de casa.

O tempo de voo dependerá da cidade onde fazem escala. No nosso caso foi Munique, tanto para lá como para cá. De Faro a Munique são aproximadamente 3 horas de viagem e de Munique à Islândia são cerca de 4 horas. Aproximadamente 7 horas a voar.

Quando planearem a vossa viagem não esqueçam dos tempos de espera entre voos e as diferenças da hora local de cada país. Na Islândia é uma hora a menos que Portugal e em Munique uma hora a mais. Façam algumas simulações com os vossos dados. Há vários sites de voos que vos podem ajudar nesta tarefa: www.skyscanner.pt, www.momondo.pt, www.jetcost.pt, etc.

Se quiserem um trabalho mais descansado e mais profissional então nada melhor do que contactar a vossa agência de viagens de confiança.

Para quem não se revê num trabalho de casa tão exaustivo, quer no que respeita a viagem de avião quer no que respeita o itinerário na Islândia, há ainda a possibilidade de juntar-se a um grupo pré-formado. É uma prática bastante comum e praticamente todas as agências de viagem de aventura possuem pelo menos um pacote de viagem à Islândia. Vejam por exemplo a Pápa Léguas http://www.papa-leguas.com/ ou a Rotas do Vento http://www.rotasdovento.pt/. Aconselho ainda a visitar o blog do Rui Costa, fotógrafo profissional e amante da Islândia http://www.ruicosta.org/, que está a organizar uma expedição (photo trip) para o ano que vem, em maio – mais info em http://phototrip.ruicosta.org/. No seu blog poderão encontrar dicas muito importantes e práticas que vos ajudarão a tirar o melhor proveito da vossa viagem. Podem ainda acompanhar este artista no Facebook (Rui Costa – Photography), Twitter https://twitter.com/ruijscosta/ e Instagram https://instagram.com/ruijscosta/

Para os mais aventureiros, e com tempo para gastar a aproveitar a vida, há ainda a possibilidade de fazer a grande expedição por terra e por mar. De carro poderão chegar até Inglaterra ou, mais fácil ainda, à Dinamarca, de onde partem ferries para a Islândia. Deve ser algo espectacular e inesquecível. Creio que a viagem dura cerca de 4 dias. Explorem e depois digam-me qualquer coisa. Sou bem capaz de vos acompanhar :D

Ah, por fim dizer-vos que o aeroporto internacional da Islândia fica em Keflavik e não em Reykjavik, a capital. Na capital há um aeroporto mas só faz voos domésticos. Keflavik é uma pequena cidade costeira do sul, a cerca de 50 km de Reykjavik.


Bom fim-de-semana e bom regresso à vidinha de trabalho!

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Planeando a expedição



Uma viagem itinerante em família tinha que ser muito bem pensada por vários motivos. O calendário teria de estar de acordo com a disponibilidade de várias vidas. Teria de providenciar dormida e alimentação num país com um custo de vida relativamente elevado. Além disso queria ver os fenómenos de perto e queria ver todos :) Isto implicaria uma logística especial em termos de transporte e riscos.

Depois de ponderar os prós e contras, decidimos alugar um transporte onde pudéssemos dormir se necessário e que nos permitisse dar a volta à ilha, levando-nos às atracções principais sem correr riscos.

Inicialmente pensamos em levar o nosso 4x4 desde Portugal uma vez que é possível fazê-lo mas como estávamos um pouco limitados de tempo acabamos por abandonar essa ideia. Fomos de avião e estipulámos um périplo de 9 dias pela Ring-Road (a estrada Nº1 da Islândia que dá a volta à ilha) numa campervan para 4. Fiz um pequeno estudo sobre o périplo a fazer, calculei as rotas para saber o número aproximado de quilómetros a percorrer e o tempo das visitas às atracções para que tudo batesse certo e não houvesse atrasos.

Decidimos que comeríamos pelo caminho, na camper ou em piquenique de forma a ver o máximo possível. Eventualmente, em alguma ocasião, teríamos tempo para sentar-nos num café ou restaurante e comer algo mais interessante e quentinho, sobretudo ao jantar, quando estivéssemos mais cansados.

Estudámos o tempo (www.en.vedur.is) e achamos melhor adoptar a técnica das camadas. Fizemos a mala com roupa variada, tanto para o frio como para o calor, mas mais para o frioooo. Nunca esquecer o corta-vento/impermeável que dá muito jeito para várias situações. Por exemplo na visita às cascatas que, mesmo não estando a chover, polvilham-nos com água fresca. Não esquecemos os fatos-de-banho a pensar nas banhocas nas lagoas, riachos e piscinas de água quente natural (hot tubes e hot springs) que por lá abundam.

E claro, levámos todos os gadgets e câmaras fotográficas possíveis. Inicialmente pensei levar um laptop para ir fazendo uma selecção das fotos e vídeos já que suspeitava que haveria de filmar e fotografar demasiado mas não levei. E ainda bem, pois raros foram os momentos de descanso e tranquilidade que tal tarefa exige. O melhor é levar uns quantos cartões de memórias com muitos gigas e fotografar e filmar como se não houvesse amanhã. Se quiserem ir dando umas notícias pelas redes sociais então o melhor mesmo é um telemóvel com câmara, de preferência com leitor de cartões sd, onde poderão ver e selecionar as fotos dos outros dispositivos. No meu caso levei uma câmara Sony, uma GoPro e meu telemóvel. Bastou para tirar mais de 1000 fotos e algumas centenas de vídeos.

Quanto à net… pensámos em comprar cartões de internet pré-pagos que sabia de antemão vender-se nas estações de serviço mas acabámos por aproveitar o wi-fi disponível nos parques de campismo, centros de informações, estações de serviços, guesthouses, etc… foi o suficiente. Também aproveitámos estes momentos para carregar os gadgets.


E por hoje é tudo. Nos próximos posts falarei de cada questão em particular. Viagem de avião, hotéis e hospedagem, estradas, clima, alimentação, etc. E vocês desse lado podem colocar as questões que acharem relevantes. Há sempre um outro pormenor que me escapa e que pode ser importante para o planeamento da vossa viagem.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Islândia, um país ou outro mundo?




Com a sua capital Reikjavick, a Islândia é também conhecida pela Terra do Fogo e do Gelo. Isto porque é um pedaço de crosta terrestre bastante recente na história geológica, que brota do Oceano Atlântico, a Norte da crista dorsal atlântica, na separação entre as placas tectónicas americana e euro-asiática. É, portanto, uma ilha com elevada actividade vulcânica (Fogo) e a sua latitude a Norte faz com que o clima seja frio (Gelo) e que seja então possível encontrar tal contraste paisagístico. Decerto já viram imagens de pessoas banhando-se em lagoas de água quente rodeadas de neve.

A Islândia tem uma cultura interessante e suficientemente diferente para notarmos que estamos noutro lugar. O povo é oriundo dos escandinavos (sobretudo noruegueses) e uma mistura de bretões (sobretudo mulheres escravas, celtas e bretãs) e menor quantidade de indígenas da América do Norte (através da Gronelândia). Falam o norueguês antigo (diferente do norueguês actual). Têm uma história interessante, sempre com os vikings na sua base, pois foram os seus primeiros colonizadores - quem ainda não ouviu falar do Erik, o vermelho?

Actualmente é um país de regras e costumes muito inspiradores para viver em sociedade. São uma nação que defende o igualitarismo e respeitam todos os povos e credos (está entre um dos 10 países com maior percentagem de ateus). É também um dos países mais seguros do mundo.

Mas é sobretudo o património geológico e natural, diverso e único, que faz da Islândia um país especial. E não sou só eu que acha. Realizadores de grandes filmes e séries escolheram as paisagens da Islândia para gravar as suas películas. Alguns exemplos: Prometheus, James Bond, Games of thrones, Guerra das Estrelas, etc Fica aqui um link para os cinéfilos mais curiosos
http://ferdamalastofa.gistemp.com/vefsjar/kvikmyndir/

Além das majestosas quedas de água podemos encontrar fontes termais, geiseres, vulcões (activos e inactivos), glaciares, areia negra, cavernas geladas, pequenos icebergs à deriva e, claro, as ‘northern lights’, as famosas auroras boreais.

A fauna e flora só por si dariam tema para um outro blog mas numa breve referência vale a pena mencionar a presença das raposas do Ártico, renas, papagaios-do-mar (Puffins), focas e muitas espécies de baleias. Quanto a animais domésticos, não passam despercebidos os cavalos (uma raça parecida aos nossos garranos) e as ovelhas que estão literalmente por todos os lados da ilha.

E muito mais há para dizer sobre este lugar. Mas reservo os restantes temas para o relato da nossa viagem. Em cada um dos posts seguintes falarei um pouco mais das particularidades deste lugar inesquecível. Até já!

domingo, 4 de setembro de 2016

Um sonho tornado realidade

Neste primeiro post vou falar um pouco sobre as razões que me levaram a querer conhecer de perto a Islândia. Bom, obviamente as razões vêm muito lá de trás. Desde pequena que carrego comigo o desejo de explorar, conhecer e vivenciar o nosso e outros planetas. Mas creio que a minha profissão, se assim posso chamar, teve a sua quota-parte de culpa. Sou investigadora científica (bióloga marinha) e a minha área de trabalho é grandemente influenciada pela geologia e paleontologia. Para compreender os meus resultados preciso entender os fenómenos geológicos do presente e do passado e essa é uma tarefa relativamente fácil para quem tem um espírito indagador e se deslumbra facilmente com os feitos da Natureza. 

Desde que ouvi, há uns anos largos, falar de Reykjavík como a capital do país do fogo e do gelo as minhas antenas ficaram alerta. Com o passar dos anos e com a evolução das tecnologias a Islândia começou a entrar cada vez mais nos meus pensamentos. Os relatos de alguns amigos geólogos que passaram por lá vieram aguçar esse apetite. O ano passado comecei então a interiorizar a ideia e a engendrar um plano. Pensei que tinha mesmo de arregaçar mangas caso contrário nunca lá iria. Estes desafios vistos ao longe parecem quase impossíveis, que nos darão um trabalho desmesurado e que implicarão muito dinheiro. É verdade até certo ponto mas também é verdade que nada cai do céu (além de água, pedra e fogo) e que quando queremos mesmo uma coisa temos que batalhar por ela. O dinheiro que não gasto na Islândia será gasto noutras coisas, é certo.

Encontrei alguns obstáculos, claro… convencer a família (a malta quando pensa em férias imagina-se mais de papo para o ar), juntar as patacas, estudar o assunto profundamente para minimizar os gastos e eventuais dissabores, etc.. Estendi o convite a algumas pessoas, sobretudo família, achando que a viagem seria mais agradável com mais companhia. Não fui muito bem-sucedida neste ponto e os motivos foram variados e todos legítimos. Mas duas intrépidas amigas aceitaram o desafio e acompanharam-nos nesta maravilhosa aventura.


Mas não devo avançar para o plano propriamente dito sem fazer uma breve descrição sobre a Islândia, esse país que não é bem deste mundo. E porque o tempo não me permite contar tudo duma vez, reservo o próximo post para esse efeito. Mantenham-se ligados ;)